Uma enfermeira americana, Bronnie Ware, escreveu um livro que poderia ser traduzido como "Os cinco principais arrependimentos dos pacientes terminais" (The Five Tops Regrets of Dying). "A última impressão da vida é a que fica marcada no espírito. Seria muito bom que ela não fosse de pesar e arrependimento", diz ela. Por isso, nesse momento é importante não julgar a vida apenas pelo viés do prazer, porque sempre vamos ter a sensação de que não nos divertimos o suficiente e não a aproveitamos totalmente. "Na verdade, a vida é muito curta, e o tempo que sentimos que vivemos com mais intensidade e prazer é pouco mesmo. A maior parte dela transcorre no tempo ordinário, comum", diz a médica geriatra Ana Cláudia. Esse é o normal. "Viver é fazer escolhas, e algumas delas incluem abrir mão do prazer imediato. Para ser amados e aceitos, ou por amar mais aos outros que a nós mesmos, muitas vezes fazemos grandes sacrifícios", complementa.
A questão real é que muitas vezes isso é feito condicionalmente, como uma espécie de troca. Nós nos sacrificamos pelos outros, mas achamos que eles nos devem na mesma proporção. Quando não há reconhecimento e mesmo o sacrifício não é aceito, é comum a pessoa se arrepender amargamente. Se um pai lutou para colocar o filho na faculdade, que decidiu sair no quarto ano de engenharia para ser mágico, ele pode sentir um grande arrependimento perto da morte. "Não podemos decidir pelos outros. Eles têm todo o direito de não concordar com aquilo que julgamos ser bom para eles", diz com clareza Ana Cláudia. Por isso, ser mais fiel a si mesmo e só fazer sacrifícios de forma incondicional pode ser um bom norte para não se lamentar mais tarde. Aliás, o desejo de viver uma vida mais verdadeira e não a vida que outros esperam de nós é o primeiro grande arrependimento dos cinco elencados pela enfermeira americana.
Os outros quatro arrependimentos ("eu gostaria de não ter trabalhado tanto", "eu queria ter tido mais coragem para expressar meus sentimentos", "eu desejaria ter tido mais contato com meus amigos" e "eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz") são outras boas indicações de mudanças que podem ser feitas durante a vida, sem precisar chegar ao seu fim para se arrepender. "A morte é boa conselheira, mas podemos mudar sem a necessidade de estarmos diante dela", diz a médica Ana Cláudia. "Podemos procurar um trabalho que nos satisfaça mais, para não sentir que perdemos tanto tempo sem ter prazer. Ou estar mais perto dos amigos, expressar mais sentimentos. Uma pessoa próxima à morte pode se tornar muito mais doce e carinhosa, mas é possível fazer isso na vida antes com quem amamos, sem ter de esperar o desenlace", comenta a médica.
O últimos dos quatro, a vontade de ter se deixado ser mais feliz, resume um pouco todos os outros. "Acredito que cada um venha nessa vida para cumprir um papel. É importante saber qual é sua missão no mundo, nas suas relações, e tentar realizá-la com todas as suas forças" afirma a médica. "Acho que as pessoas que mais se arrependem são as que tiveram a chance de mudar e não mudaram", finaliza.
Liane Alves
Fonte: Revista Bem Simples
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