Uma conhecida minha costuma dizer que a vida seria ótima, se não fossem as outras
pessoas... Desde sempre precisamos de outros seres humanos para viver e
sobreviver, e ao mesmo tempo estamos sempre em conflito com eles. Mágoas,
frustrações, irritação. Essas emoções surgem em nós exatamente na proporção de
nossas expectativas em relação às pessoas com quem convivemos. Se estamos
magoados, decepcionados ou irritados com alguém ou com as circunstâncias da
vida, o correto é dizer que nós nos deixamos magoar por esse alguém ou pela
vida. A escolha é nossa. Quanto maior a nossa expectativa em relação a elas,
maior a probabilidade de nos decepcionarmos.
Por que isso acontece?
Se quisermos ser amados ou admirados por todos, vamos nos sentir
decepcionados em muitas oportunidades; também ficamos frustrados quando não
fazem conosco ou para nós, o mesmo que acreditamos ter feito de bom aos outros:
somos gentis no trânsito na expectativa que sejam gentis conosco; somos honestos
porque esperamos honestidade dos outros; evitamos fazer fofocas porque não
queremos ser vitimas delas...
Somos “nós” os parâmetros para nossos
conceitos de bondade, gentileza, compreensão e honestidade. O “quanto” e “como”
gostaríamos de sermos amados, respeitados e considerados somos nós que
estabelecemos, portanto a responsabilidade pelo desapontamento pelo que
recebemos é nossa. Bom seria se amassemos e ajudássemos as pessoas, cumpríssemos
a lei e as regras sociais por uma questão de consciência pessoal; certamente o
que recebêssemos em troca seria bem vindo e evitaríamos muito sofrimento
emocional inútil.
Não esperar nada dos outros parece sem sentido para
muita gente, que não consegue imaginar o mundo sem que ele seja um reflexo de si
mesmo e de seus pensamentos e desejos. Aceitar que a sua opinião possa não ser a
melhor, que a sua atitude possa não ser a mais correta, e que o outro possa ter
suas razões da mesma forma que você tem as suas, e que ele possa querer se
preservar como você, exige humildade.
Quanto maior o nosso apreço e
proximidade com as pessoas, maior a nossa exigência ou expectativa em relação a
elas – que elas sejam tão organizadas quanto nós, que nos amem na mesma medida
que as amamos, que nos sejam gratas, que concordem conosco em nossos conceitos
de certo e errado, e até seus sentimentos tem que ser iguais aos nossos.
Exigimos, não só que nossos desejos sejam atendidos, mas também adivinhados.
Não nos damos conta de quanto é absurda essa exigência; perdemos a noção
de que o outro é o outro, e nós somos nós. Ficamos magoados se ele não se
comporta como nós nos comportaríamos se fossemos ele. Não conseguimos nos
colocar em seu lugar nas circunstâncias dele, com o temperamento dele, vivendo a
situação dele... Reconhecer que as mesmas coisas podem representar algo
diferente para diferentes pessoas exige uma boa dose de abnegação e
complacência. Algumas pessoas têm dificuldades em lidar com a rejeição amorosa
exatamente porque não conseguem perceber que o outro não é ele, e que, como tal,
pode não compartilhar de seus conceitos de beleza, atração ou inteligência.
Usando o exemplo dado por G.J. Ballone – “seria o mesmo que dizer, se eu fosse
ele, eu gostaria muito, mas muito mesmo de mim, seria grato a mim mesmo, acharia
que estou muito certo... etc.”
Se aceitar que a maneira de ser
de nosso próximo pode ser muito diferente da nossa exige humildade, abnegação e
complacência, como nós, simples mortais, podemos atingir estágio tão elevado
como ser humano? Simples, e complicado ao mesmo tempo – conhecendo a nós mesmos.
Quanto mais soubermos a nosso próprio respeito, mais vamos conhecer sobre o
nosso semelhante e menos sofrimento, mágoa e desencanto vamos experimentar em
relação a ele. Somos iguais em nossa necessidade de sermos reconhecidos, amados,
respeitados, obedecidos, entre outras coisas, e exigir isso do outro sem
conceder a ele o mesmo privilégio em relação a nós é no mínimo um contra-senso.
Embora sentimentos tais como o desejo de levar vantagem, ser ouvido ou apreciado
exista em todos nós, criticamos nos outros atitudes que não temos coragem de
tomar. Ficamos inconformados e constrangidos, e é natural tentarmos mudar alguma
coisa ou alguém. É preciso que fique claro que tentar mudar uma pessoa é uma
tarefa quase impossível – ela mudará apenas se isso for do interesse dela, se
ela reconhecer que essa mudança vai lhe trazer benefícios, ou, se insistir em
permanecer como está lhe acarretar perdas importantes.
É inútil
tentarmos fazer com que ela se sinta culpada, errada, arrependida ou mal
agradecida, porque assim como nós, ela também se acha certa e com razão. Embora
isso pareça absurdo, muitas pessoas exigem que o outro mude seus sentimentos, ao
invés do seu comportamento. É mais sensato tentar entender esses sentimentos
através da empatia do que fazê-los mudar. Você não pode pedir a seu marido que
“goste” de almoçar com seus pais aos domingos, mas pode pedir a ele que a
acompanhe nesses passeios. É importante ter em mente que o outro não está errado
em sentir as coisas ao seu modo. Nós é que erramos em termos a pretensão de que
ele sinta como nós, e sofremos pelas nossas pretensões.
Ás vezes as
pessoas têm realmente a intenção de nos magoar ou irritar. Mesmo assim, só
seremos atingidos se algo dentro de nós estiver receptivo ao que nos tentam
impingir, nos tornando vulneráveis aos ataques.
Sentir-se agredido vai
depender muito do quanto somos sensíveis a critica, à contrariedade e à
frustração. Fazendo uma analogia com nosso corpo físico, se temos uma ferida,
qualquer esbarrão nela, independente da intenção, provocará dor. Se estamos nos
sentindo excessivamente agredidos, magoados e frustrados em nosso ambiente,
temos que considerar a possibilidade de termos feridas íntimas e profundas, que
a semelhança de uma ferida física, dói a qualquer esbarrão. Quem está bem
consigo mesmo não se deixa perturbar tão facilmente pelos demais.
Por: G.J. Ballone
Fonte: "Mensagem do Dia" do Facebook
Este texto, com certeza, entrou para a minha lista de preferidos!
Foi um "chacoalhão" necessário...hehehe