Hoje pela manhã saí com Gael (filho) no carrinho. Fomos até a pracinha aqui perto, demos uma volta e então fomos a um mercado pequenininho, com corredores estreitos demais para a largura do carrinho de Gael. Era difícil seguir em frente, muitos carrinhos parados no meio do caminho. Não tinha polvilho doce, a fila no caixa estava enorme.
Quando chegou finalmente a minha vez de passar no caixa, uma senhora me perguntou se podia passar na minha frente - ela queria apenas pagar um pacote de café e estava atrasada. Na fila éramos todos preferenciais, o carrinho de Gael enganchando entre os caixas, ele começou a chorar irritado. Respondi um "sério?". Sei que fui ríspida. Ela respirou fundo - ela sabia que eu estava sendo ríspida. A caixa olhou para mim e começou a passar as compras.
Eu podia ter fingindo que não era comigo, ninguém me recriminaria. Eu estava em um mercado apertado com um bebê chorando, passando meia dúzia de coisas no caixa e tinha esperado mais de vinte minutos na fila. Mas eu sabia. Eu sabia que tinha saído do meu centro naquele "sério?". E então eu me sintonizei com o amor.
Pedi à senhora que ela passasse na minha frente, mas a caixa já havia começado a passar as minhas compras. A senhora segurava seu pacote de café, confusa. Quase como se percebesse a mudança de minha vibração, e então eu disse, "pode passar o dela junto com as minhas compras". Ela relutou, disse que não. Pareceu envergonhada. A caixa tentou argumentar. Eu então peguei seu pacote de café e pedi à caixa que ela passasse a compra e disse a ela: "estou com fome e o mercado é apertado, uma das coisas que eu queria está em falta e meu bebê está inquieto. Fui ríspida com a senhora, me deixa de alguma forma me retratar. Quero pagar seu café".
A senhora encheu os olhos de lágrimas. "Deus te abençoe", ela me disse. "Amém", eu respondi.
Ela foi embora, eu saí do mercado. Vim andando pela rua pensando em como é fácil e leve escolher o amor. Como me daria trabalho sustentar a máscara de pressa, de rispidez, de mau humor. Foi tão leve... Abrir mão. Reconhecer algo que não gostei de fazer. Fazer uma gentileza.
Então: escolhe. Escolhe de novo. Escolhe o amor.
Flávia Melissa
Gostei desse relato, torna real algo que falamos tanto...
Mais prática, menos teoria!